Morre diretor da Rádio Municipalista

Levou 78 anos para a morte derrubar o empresário botucatuense, Emílio Peduti Filho, ex-dirigente da Associação Paulista dos Municípios, ex-vice-presidente do Banespa, pré candidato a vice-governador, com Laudo Natel, no final dos anos 1960. Desistiu antes de registrar a candidatura. Naquela época eram os deputados estaduais que elegiam os governadores. Se apresentavam diante da corte legislativa, representação de apenas dois partidos permitidos pelos governantes militares: MDB _ Movimento Democrático Brasileiro, de oposição e Arena_ Aliança Renovadora Nacional, governista. Os deputados votavam e o governo central entronava no período de regencia.

Ele era dirigente da secção de São Paulo da Ordem dos Economistas, ex-presidente da Misericórdia, Grão Mestre da Maçonaria, líder político de centro, dirigente e um dos sócio-fundadores da Associação Mata Sugizaki de Judô; nos anos 1970 e 1980, quando as indústrias dos clãs italianos, espanhóis, portugueses começaram a sentir o peso da inflação, conseguiu, usando prestígio obtido no Banespa, atrair indústrias como a Staroup, a fábrica de ônibus Caio, a extinta Usina Costa Pinto, que fazia produtos da marca Peixe, entre outras.

Era uma pessoa simples, de fácil trato e respeitado, por todos, inclusive adversários políticos que ganhou, quando disputou eleições para prefeito, em 1988, saindo do pleito com 20% dos votos.

Dizem os que se lembram da disputa, estava com a eleição na mão, mas na última semana, alguém em seu staff, usando um avião, fez vôos rasantes na inauguração da tão sonhada rodoviária. "Era o que precisava para virar a eleição", reconheceu em vida, Jamil Cury, que estava fazendo seu primeiro sucessor.

"Seu Emilio", era como os funcionários da Rádio Municipalista e da 'EP Agropecuária', chamavam o "Dr. Emilio", que era tratado com distinção, por lideres políticos e "Emilinho", como os amigos de muitos anos e os novos o tratavam.

Nos tempos atuais, dizer que é comunista é emprego garantido (e assento na janela), mas houve tempos no Brasil, que não era aconselhável, tendo o mínimo de bom senso, admitir ser comunista. Depois de demitido do Jornal de Botucatu, por não seguir a cartilha do patrão e 11 meses desempregado, fui convidado a procurar o "Dr. Emilio", para ver se conseguia uma vaga, no jornalismo da sua emissora.

Ele abriu a porta, com a cara carrancuda, olhando a certa distância para frente, do tipo burguesão, estilo "mando prender e se tiver de ovo virado, prendo o delegado junto", mandou que me sentasse em uma das poltronas de couro de sua sala. Já estava esperando a conversa de sempre, "depois a gente te procura", quando ele abre um sorriso estilo "cartão de visita" e pergunta: Pode falar como vou te ajudar?".

"Sai do jornal e estou procurando emprego, tem alguma coisa ai?", perguntei. "Vou mandar você procurar o Jayme Contessote, (pai do jaiminho), se ele mandar te contratar eu cumpro a ordem. Eles vão ver se você tem gogó e se tiver talento pra coisa, registramos em três meses", orientou. Negocião! Era o primeiro "isso não vai dar certo!", que relutava em contrariar outros onze meses de "não deu certo...".

No dia combinado, deu errado, o Jaymão tinha tido um problema de saúde e só voltaria em uma semana. No prazo estabelecido, em uma sala, em cima da Joalheria Peduti, Wanderley dos Santos e o Jayme Contessote estão conversando. Depois das conversas, eles mandaram voltar a falar com o Dr. Emilio.

"O pessoal gostou. Vamos acertar os seguinte. Nos primeiros três meses, pago meio salário e depois salário inteiro". Era o piso do sindicato, com direito de ter carteira assinada!
"Tem alguma coisa que eu precise saber antes. Você é casado, tem filho fora do casamento, amante, é meio viciado ou comuna?"

"Tem Doutor, sou comunista!", saiu da minha maldita língua. "Mas é comuna dos nossos ou deles?", perguntou incrédulo. "Sou do PCdoB!", (burro, confirmei!), e ele emendou com ar de "presta atenção no que vou dizer". "Seja comunista, udenista, arenista, emedebista, o que você entender que deva ser, é seu direito, mas aqui dentro, tem de ter ética e ouvir os dois lados", orientou.

Depois de ouvir o recado, já permiti uma nota negativa confirmando "birice" ao futuro patrão. "E se for amigo do patrão", interjeicionei, já duvidando da continuidade no emprego que nem havia começado. "Se for mesmo meu amigo e estiver na notícia ruim, vai ser ouvido, como o que não é meu amigo e se mesmo assim, esse meu amigo estiver errado, ele vai entender que ao menos ouvimos o que ele queria dizer. Se for meu amigo nem vai reclamar...".

Assim foi nos quatro meses que fiquei na Municipalista: nenhuma censura, como foi também na Rádio Emissora -F8. (Nas muitas idas e depois no último retorno, que terminou em 2009, o"seu Emilinho" ligou para dar bom retorno. "Menino, você não vive longe de nós. Sossega agora, ta ficando velho, casa, não vê o Zé e o Neto... Nesses dois anos, nos encontramos só duas vezes e nas duas, no meio das rápidas conversas, mandava "sossegar", "tá ficando velho"...).

Antes disso, até tiro levamos juntos em uma campanha em 1988.

Ele teve a primeira campanha bem estruturada, com artistas (era permitido show musical), assessoria de imprensa e de produção de campanha da cidade. Gervásio, eu, Luiz Henrique, Wanderley dos Santos, Toninho Garcia, acho que o Quico Cuter e um fotógrafo que não consigo me lembrar o nome, estavamos lá produzindo jornal, rádio, carro de som...

Eu, "seu" Aranha, Zé do Queijo, "seu" Witlzer (candidato a vice-prefeito), Wanderley, Luiz Henrique, Toninho, Zé Peduti ou Netão, (um dos dois), Gervásio, Hamilton Policastro e a dupla João Paulo e Daniel...Peduti e Witzler, certamente estão entre os primeiros longos contratos de shows da dupla. No palco, nos dias de showcomício uma dupla de Hamilton Policastro, que o povo gostava de ouvir: João Paulo e Daniel, em início de carreira.

Voltando ao tiroteio: Um dia, Peduti e Witzler (coligação PL-PTB), com sua troupe de vereadores, organizaram um show-comício no Parque Marajoara, que em 1988, era o mais violento bairro de Botucatu, (ao lado do 24 de Maio), com assassinatos regulares, violência doméstica. O bairro tinha décadas de abandono público, com poucas ruas com energia elétrica. Praticamente em cada esquina tinha um bar, a cada duas ou três esquinas tinham, ou uma igreja ou terreno de umbanda e todas as vias públicas, sem asfalto, algumas sem rede de água, regos de esgoto a céu aberto, afastavam água da higiene pessoal e limpeza, fazendo trilhas de agua preta no chão. Nos quintais, fossas dos sanitários e quase ao lado, poços de água.

Poucos iam e foram ao Marajoara. Montado o som, Luiz Henrique Paes de Almeida e eu subimos no palanque - uma carroceria de caminhão da Eletro Witzler, para organizar o comício e a apresentação de Peduti, seu vice e seus vereadores, mas o jogo de cena, determinava que o candidato fosse ao bar em frente e na casa do eleitor mais próximo do local do comício, para tomar um café e tirar uma foto.

Começou o show, Luiz Henrique chama a "única dupla café com leite do Brasil, João Paulo e Daniel". Eles começaram a cantar e no bar ao lado, uma briga. Peduti já estava na casa do eleitor. João Paulo e Daniel tocando e cantando em cima do caminhão e tiros sendo disparados na briga. Luz apaga, gente correndo para tudo quanto é lado, a dupla pára a cantoria e se agacha.

Recomeçado o showmício, seu Emilio e o Zé do Queijo, descobriram que o cidadão que motivou a briga, era conhecido e odiado pelas encrencas no bairro. O povo retornou para ver o final do show e Peduti então começa o discurso, dizendo que até bandoleiros os seus adversários tinham arranjado para prejudicar seu comício, mas que no Parque Marajoara, só tinha moradores de bem, que eram seus vizinhos e por isso mesmo era "o melhor povo do mundo", jargão usado por seu pai, ex-prefeito de Botucatu. No Marajoara fez um dos seus melhores comícios de toda a campanha.

"Seu" Emilio antes de tombar na guerra da vida contra a morte, encarou 2 derrames, um infarto e na última internação, há alguns dias, uma cirurgia nos rins, permitiu que a sinistra morte cumprisse sua tarefa. Uma batalha de quase duas décadas. Era um grande homem, muito mais humilde que o sobrenome do clã impunha. Tinha boas conversas, era palmeirense, orgulhoso e fã dos seis filhos e dos vários netos.

Em seu velório, praticamente todos os setores socioeconômicos e políticos da cidade, estiveram rendendo as últimas homenagens, como os ex-prefeitos Mário Ielo (PT) e Joel Spadaro (PMDB) e o atual João Cury (PSDB), que decretou luto oficial de três dias na cidade. Também estiveram no velório, dirigentes de entidades empresariais, Misericórdia Botucatuense, igreja e da maçonaria, da qual era graduado em "altas patentes".

Comentários

  1. Haroldo, meu nome é Henrique e escrevo os obituários do Diário de SP, aqui da Capital. Escreveremos sobre o Sr. Emílio, e gostaria de falar com você sobre ele. Meu email é henrique.zamithh@diariosp.com.br e meu telefone 11 3235-7873. Se você puder entrar em contato comigo hoje, eu agradeço muito.
    Obrigado!

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  2. SEU EMILIO PEDUTI DESCANÇE EM PAZ ,GRANDE HOMEM E DE UMA FAMILIA MARAVILHOSA
    AQUI MEUS SINCEROS SENTIMENTOS

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